Era sexta-feira, alguns anos atrás, feriado prolongado, e lá estávamos nós dois terminando a noite no Habeas Copus (um barzinho da Vieira). Enquanto tomávamos a segunda ou terceira cerveja, olho para a entrada do bar e vejo surgir uma drag queen, toda montada, com uma espécie de ajudante carregando uma caixa de som. Sensação de medo me dominou. Imaginei na hora que algo muito próximo dos meus maiores pesadelos iria ocorrer por ali, ficar sentado enquanto uma drag dublaria algumas músicas de gosto discutível...
A drag liga o som, pede licença ao público, apresenta a si mesma e sua banda (um ipod genérico). Seu nome é Renata Peron, e segundo a mesma, os donos do bar permitiram que ela se apresentasse por meia hora. Novamente sou tomado pelo medo...Só que, para meu espanto-mor, mal abre a boca, o que ouço surgir é uma voz simplesmente ótima, hiper-afinada! Poucas cantoras na nossa combalida MPB cantam ao vivo com tanta segurança, jogo de cintura, afinação e capacidade de entreter. Uma legítima show woman! Morri!
Em poucos segundos ganhou a atenção de todos, até mesmo daqueles que, como eu, olhavam desconfiados para a figura. E que figura! Realmente uma artista, sabia envolver o publico, cantava e encantava com muito bom humor. Há pessoas que nascem para os holofotes, e Renata Peron é uma destas. Nasceu pra ser diva... É impossível ver seu show e não dizer que seu lugar é diante de uma platéia, ao som de aplausos.O repertório da apresentação era formado por música brasileira, variado, de Ivete Sangalo a Alcione, de clássicos do samba até canções próprias. Mesmo músicas das quais eu não gosto conseguiram prender minha atenção, e tudo se deve exclusivamente ao carisma da artista.
Depois descobrimos que ela era bem conhecida no universo gay, que apresentara um programa de TV, fez teatro etc. Gente de primeira, presença constante nos eventos da diversidade de São Paulo. Naquela noite ela ainda nos contou que há uns dois anos foi atacada por skinheads ali mesmo no centro de SP e por conta do incidente chegara a perder um rim - mas tudo sem sensacionalismo e com muita classe.
Ali na minha mesa, tomando minha cerveja, engoli meus próprios preconceitos e me curvei diante de seu talento. E eu, que comecei a noite desconfiado, terminei indo pessoalmente parabenizá-la pela apresentação e ainda comprei o seu CD...Maridão virou fã "Número 1" naquela mesma noite.
Depois disso já vimos diversas apresentações de nossa querida Renata, e sempre divulgamos seu trabalho por aqui. Neste sábado ela comemorará seu aniversário em grande estilo, no Primeiro Carnagay de São Paulo. Se você ainda não tem programa para seu sabadão de carnaval, fica a dica! Maiores informações, clique no flyer ao lado para ampliar.
Parabéns, Renata!
pois é, temos gratas surpresas qndo colocamos nossos preconceitos a prova.
ResponderExcluirMas Sampa está com as melhores programações sempre! Ai que delicia...
ResponderExcluirMuito bom quando a gente permite surpreender a si mesmo, nzé? E com certeza vcs são "um pouco de tudo e de tudo um pouco"... acho muito DYGNOS! Hugzão, queridôncio!
ResponderExcluir