Dois Perdidos no Rio de Janeiro
Como vocês devem ter percebido, andamos meio longe do mundo virtual. Perceberam, né? E dessa vez não foi por um bom motivo – foi por um ótimo motivo: maridão e eu estávamos passando uns dias lá no Rio de Janeiro. Tive de ir ao RJ apresentar um trabalho no campus da UFF (Niterói) e levei o maridão a tiracolo para me fazer companhia.
Dez anos atrás estivemos no RJ e nossas lembranças eram as melhores possíveis. Desta vez não foi diferente, foi uma ótima viagem, voltamos com gostinho de quero mais! É claro que não vamos colocar todos os detalhes sórdidos por aqui – isso fica a cargo da imaginação fértil de vocês... mas foram ótimos dias e noites, regados a muuuuuita caipirinha e com direito a fazermos a pé (sim, a pé) TODA a orla carioca!
Mas como este blog não é de turismo, vamos ao lado gay da força: NÃO TEM GAY NO RJ???? Pelo menos essa é a impressão que fica. Ou melhor, a que ficamos ao andar por todo o centro, a zona norte e a zona sul da cidade. A diferença em relação a SP é muito, muito grande e chamou a nossa atenção. O gay de SP é mais visível. É impossível pegar um metrô, um trem, dar uma volta pelas ruas de SP sem encontrar todos os espécimes da fauna gay. Não sei se o gay carioca ainda vive no armário social ou se todos se esconderam da gente, mas parecia que éramos os únicos gays por lá. Para ser mais sincero, o único outro casal gay que vimos de mãos dadas em Copacabana, por exemplo, era, nitidamente, formado por dois gringos. Nós, que não pedimos licença para viver a própria vida, andamos de mãos dadas e abraçados na praia, nos beijamos no calçadão... Não morremos e esperamos ter contribuído de alguma forma...
Obviamente não estamos falando de guetos gays na praia ou na cidade, sentimos realmente falta de ver o gay assimilado pelo cotidiano, como é comum por aqui. Sabe a tal visibilidade de que a militância tanto fala? Pois a gente também acredita que ela é importante num aspecto: quanto mais algo é presente, menos é notado. Hoje em dia você pega um metrô em SP e vê que o gay mega-afeminado não chama mais tanto a atenção, está lá, sentado do lado do senhorzinho voltando do INSS. Exposição gera assimilação. Visibilidade gera invisibilidade.
Por falar em visibilidade, a cidade – e principalmente a orla – está repleta de cartazes com mensagens pedindo tolerância em relação ao público gay. Ótima iniciativa, mas confesso que me pareceu mais algo como “ok, carioca da gema, um monte de turistas gays vem pra nossa cidade. Precisamos deles. Tolere e suporte um pouco, logo eles vão embora.” Definitivamente não deu a impressão de ser uma campanha voltada à população gay local. Mas, como nos pareceu que não há gays por lá, talvez faça algum sentido... Gays cariocas, onde estão vocês além do mundo virtual?
Depois de uma semana dando uma de gringos em Copacabana, Ipanema, Leblon, na melhor das companhias, com muito sol, nos perdendo de dia e de noite, e overdoses de bons drink, aqui estamos nós outra vez. E ainda teve boatos de que a gente estava numa pior. Se isso é estar na pior, o que quer dizer estar bem, né?
Boa semana a todos!
8 Comentários:
Não acredito... Vocês estavam na minha universidade... Quanta honra! :D
Mas isso que vocês falam é fato. Os gays são bem apagados, não é muito comum vermos pessoas assumidas por aqui. De fato, isso tem a ver com o reflexo do preconceito sim. Mas acho que isso tem mais a ver com os próprios homossexuais daqui. Primeiro, a maioria tem um medo inexplicável de "tomar coió", algo bastante infundado por sinal, já que eu já andei livremente por locais que não são destinados apenas a gays e nunca tomei coió. Segundo, os gays aqui admiram principalmente os outros gays que não parecem gays, por exemplo, se você for na balada com uma "roupa de hetero", usar um vocabulário de hetero e se comportar e gesticular como um hetero, as chances de você ficar com alguém é maior!
Que vocês voltem mais vezes!
Um abraço
Até
Acho que vocês não foram nos "lugares certos". Abcs !
Minha dúvida é: que seria "coió"??
Quando eu morei no Rio percebi isto também!
Enquanto em Recife como em SP os gays são mais visíveis no Rio eles sentem a necessidade de se camuflarem numa aura de macho super ativo. Parece até que vivem todos no armário e só se soltam nas boites.
Beijos queridão e que bom que você mesmo aparecendo pouco aqui nos brinda com seus posts eventualmente
O Rio eu sempre o vi assim ... desde os anos 70 qdo ia direto por lá sempre foi assim ... existe uma aura nos cariocas sobre um povo aberto para tudo mas é só isto. Belo Horizonte, capital dos Mineiros povo fechado e retrógrado, desde aqueles tempos da de 10 a zero neste aspecto. Vc respira vida gay em qualquer parte da cidade, sem esta de guetos específicos ... claro q SP neste aspecto é a cidade mais democrática do "MUNDO" para com a diversidade ... digo isto com conhecimento de causa ... não tem outra no mundo igual não, mesmo com todo preconceito inerente a certos segmentos ...
Peço desculpas aos amigos cariocas ... não vai aqui nenhuma ofensa a eles, apenas uma constatação óbvia ...
Em Maio eu e o Elian vamos passar nossa segunda lua de mel por lá ... e as suas dicas foram preciosas ... tempos q não vou por lá ... e olha q em termos de beleza natural e beleza urbana aquela terra é a mais fantástica do mundo ...
bjão aos dois ...
eu concordo plenamente com essa impressão, mas nenhum carioca vai concordar...
Aqui no Rio as pessoas são menos identificáveis. Não temos uma noção de tribo tão clara quanto em sampa. Mas que bom que vcs curtiram, a primeira vez que estive em São Paulo fui assaltada. D: Mas depois de outras visitas curti muito o lugar. Nesse fim de semana eu tava aí pro Lollapalooza. :)
Estive em São Paulo esse fim de semana, e parei pra prestar atenção nisso. E é verdade. Lá é bem mais fácil de pescar. Mas aqui a questão é que são outros os detalhes que você tem que observar :p
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