quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Glauco Mattoso: Fala, Que Eu Te Chuto!


Nascido Pedro Silva, adotou o pseudônimo “Glauco Mattoso” após ser diagnosticado com um glaucoma que lhe tirou a visão. Humor negro e ausência de auto-piedade são qualidades que poucos possuem. Glauco é um dos maiores nomes da poesia marginal brasileira e um dos grandes personagens do underground paulistano. Figura muito simpática, o conheci na época em que eu escrevia para uns fanzines alternativos de SP. Não sabe quem é? Nunca é tarde para conhecer.Seus poemas são, na maioria, sonetos que vão do sublime ao escatológico num mesmo verso. Amigo e parceiro de ícones como Cláudia Wonder (aparece no documentário Meu Amigo Cláudia - imperdível), fetichista assumido (pés), foi um dos criadores do Grupo SOMOS, pioneiro na militância gay em nossas terras tupiniquins.

Pincei alguns trechos de entrevistas com ele para dar uma ideia do seu pensamento "peculiar":

Cegueira: "Quando, após a última cirurgia (1995), saí do hospital já sem enxergar nada, foi como se a vida estivesse acabada. Nem segurar um garfo eu conseguia. Tudo me caía das mãos, em tudo eu tropeçava. Achei que nunca mais iria comer sem que alguém me desse na boca. Mas aos poucos fui me habituando e hoje faço tudo com calma, apalpando em volta até me certificar que tipo de objeto está na minha frente".

Fetiche por pés: "Para mim o chulé tem um poder afrodisíaco irresistível. Acho que é por isso que prefiro o pé masculino: porque costuma cheirar mais forte. Na minha opinião, o grande problema está nesta civilização que só valoriza o cosmético, o artificial, em vez de preservar o que é natural e espontâneo. Qual é a graça de cheirar um pé com perfume de rosa? Se eu quisesse sentir perfume eu cheirava uma rosa, ora! Se eu procuro um pé é porque quero sentir cheiro de pé. Esse culto à higiene acaba com toda a espontaneidade do erotismo humano".
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Gay: "Na verdade, não sou um homossexual. Os dois maiores mitos do homossexualismo, quais são? O sexo anal e o culto priápico levado ao exagero — o culto do pau grande. Não sou adepto de nenhuma dessas duas coisas. Não gosto do sexo anal. Inclusive talvez tenha sido isso que tenha me salvado da aids. Com ou sem campanha de prevenção eu não pegaria aids justamente porque não me exponho a esse tipo de coisa. Ironicamente, acabei me salvando da vala pública..."
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Homocultura: "Do ponto de vista da sexualidade posso dizer que não me sinto nem um pouco à vontade com essa noção geral que fazem sobre a homossexualidade. Não me identifico nem um pouco com a cultura gay. Para se afirmar socialmente o homossexual foi, na verdade, ampliando o gueto em que estava. Com isso foi adotando como universo cultural toda uma série de valores que, para mim, são extremamente antipáticos. A música que os gays ouvem, por exemplo, é absolutamente descartável, um verdadeiro lixo. Não estou sendo elitista, veja bem. Não estou contrapondo a dance music à música erudita, nada disso. Sou um roqueiro de medula, um roqueiro que gosta de punk, de música podrona, bem primária, barulhenta. Não aceito de forma nenhuma aquelas coisas do universo gay: telenovela... Gosto de futebol. Sou um cara muito machista. Não me sinto à vontade com esses valores gays".
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Militância: "Fiz parte de todo um movimento cultural de minorias que aconteceu justamente no final do período militar. Fundamos o (jornal) LAMPIÃO, o grupo Somos. Então, lógico, eu me solidarizo, tenho cumplicidade nisso".
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Soneto: "Depois que perdi a visão, só posso compor de memória. E o soneto facilita a memorização porque tem regras rigorosas de metro e rima. Além disso, o soneto é uma forma já consagrada como insuperável na tradição poética."
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Skinhead: "Traduzi o livro "Espírito de 69 - A Bíblia do Skinhead", de George Marshall. Na verdade, o que me interessa mais na subcultura skin é a música, mas há outros motivos que me despertam o fascínio, tais como o culto da "ultraviolência" (a exemplo de "Laranja mecânica" de Burgess, filmado por Kubrick) que me evoca os abusos que sofri na infância (a cena de Alex lambendo a sola do agressor é o meu maior fetiche visual) e a supervalorização da bota como peça do vestuário, como arma e como símbolo de poder e orgulho. Mas isso não quer dizer que eu me identifique com ideologias neonazistas que se infiltraram na "tribo" skinhead, até porque no Brasil a maioria dos skins (cá chamados de "carecas") é mestiça e nada tem de "ariana" nem de racista".
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Deixo vocês com uma pequena mostra da poesia do Glauco:
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SONETO 139 OROERÓTICO (OU OROTEÓRICO)
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Segundo especialistas, a chupeta
depende da atitude do chupado:
se o pau recebe tudo, acomodado,
ou fode a boca feito uma boceta.
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Pratica “irrumação” o pau que meta
e foda a boca até ter esporrado;
Pratica “felação” se for mamado
e a boca executar uma punheta.
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Em ambos casos, mesma conclusão.
O esperma ejaculado na garganta
destino certo tem: deglutição.
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Segunda conclusão: de nada adianta
negar que a boca sofra humilhação,
pois, só de pensar nisso, o pau levanta.
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Para quem quiser saber mais:

Site oficial, com biografia, entrevistas e textos: http://glaucomattoso.sites.uol.com.br/index.htm
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Bom final de semana a todos, e, para não perder o hábito, divirtam-se sem moderação!
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13 Comentários:

Anônimo disse...

Ele deixou entender que a aids é exclusiva dos gays, que só se contrai HIV através de sexo anal... não sei se foi esta intenção, mas me deu esta impressão.

FOXX disse...

concordo com o anônimo ai em cima, além de incluir q ele deixa bem claro q se opõe a homocultura basicamente por ser machista e, sendo assim, ele não deve ver motivos porque contestar uma sociedade heteronormativa.

Alexandre Willer Melo disse...

acho que não era bem isso...mas mesmo assim:
palmas
palmas
palmas

Unknown disse...

O ponto A do mapa é onde os senhores fazem ponto? :-)

Gui disse...

Ele escreve pra Caros Amigos, não escreve?

Já tinha lido algumas coisas dele, achei bem legais.

DPNN disse...

Deixa eu explicar o que ele quis dizer sobre a questão da AIDS: no documentário que eu citei eles falam que - nos anos 80, ok? - usavam a questão da sexualidade para contestar os valores "burgueses" da sociedade. Só tinham o corpo como ferramenta de protesto, e usavam o sexo como forma de manifestação política. Transar com o maior número de parceiros numa noite - ou ao mesmo tempo - era uma forma de se posicionar contra o status quo. Nessa, muitos se ferraram: pegaram AIDS e morreram. Boa parte dos amigos do Glauco se foram por conta da "peste gay", como se dizia na época. Glauco não está julgando quem pegou a doença, gente, ele está apenas dizendo que o fato de não gostar de sexo anal (ativo ou passivo) salvou sua vida por pura sorte - ou, para ser mais "glaucomattosiano", por pura cagada. Só isso, sem maniqueísmos.

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

concordo plenamente com as perspectivas do Glauco ... e os seus esclarecimentos no coment sobre a possível leitura de que ele colocou a AIDS como a peste Gay foi super oportuna ... tem-se q conhecer a obra de Glauco dentro de seu contexto ... parabéns pela lembrança e por trazer até aqui esta figura fantástica ...

ps: a música ... sim ... o sonho foi este mesmo ... rs ... o amor tá viajando de férias e eu fiquei ... saudade já bate forte ... fazer o que né?

bjux

;-)

S.A.M disse...

O ponto A do mapa é onde os senhores fazem ponto? :-) [2] kk

Mas adorei a entrevista, não concordo com a opnião dele sobre certos aspectos, mas também não concordo com essa questão de 'cultura gay' como se todo gay obrigatoriamente tivesse de agir assim ou assado.

Foi uma ótima dica, vou explorar isso aqui rs

Abraços.


P.S.: Saudade de passar aqui em vcs

..::voy::.. disse...

não conhecia o cara. mas achei interesante...

bjs do voy

Anônimo disse...

Meninóns!Que bom que voltaram... soh vi hojy... entrei 2011 colocada pra continuar assim o ano todo... abapha!
Amo vocês!

Anônimo disse...

Eu nao o conhecia.Achei interessante o ponto de vista dele.Nao concordo com todos.
Sobre a Aids,somente quem viveu na década de 80/inicio 90 sabe o peso qdo a doença veio a tona.Quem nao tem medo do desconhecido que atire uma pedra.
Beijos.

Unknown disse...

Quanto tempo não passo por aqui, né? Vejo que o blog está bombando com os assuntos interessantes de sempre.
Quanto ao poeta marginal, não o conhecia, mas gosto de pessoas que assumem o que são. Isso, a postagem transmitiu ser a sua principal característica.
Devo confessar, no entanto, que me achei mais gay após ler os relatos dele - o que, pra mim, não é demérito algum (só pra ficar claro).
Bjux e voltarei.

Ma disse...

Glauco é um figura, hehe. Adoro esses artistas do lado underground de SP, apesar de sempre me assustar um pouco com eles, hehe

Se servir como sugestão, acho que seria legal a cada duas semanas um post sobre personalidades de SP, hehe

bjs

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