Paredão DPNN: Militância Gay
Uma das perguntas mais frequentes que a gente recebe nos comentários é "o que vocês têm contra os militantes gays?" Como sempre imaginamos que a pergunta deveria ser "por que alguém é a favor? ", então resolvemos explicar melhor neste post. A gente não gosta é de militantes em geral, independente da causa que defendam. Quem milita, limita. Para começar, imaginemos juntos uma historinha para ilustrar a questão:
Noite de sábado, maridão e eu num bar, tomando umas, outras e todas as demais - e discutindo os absurdos da ABGLT, cujo presidente resolveu recentemente publicar uma nota agradecendo ao José Dirceu pelos serviços prestados à causa gay (!!!!!!!!!!!!!!!!!!). Essa história é tão surreal que merece um capítulo à parte. Voltemos à mesa do bar. Maridão e eu somos gays, ok? E se, naquele momento, nós dois decidíssemos fundar uma associação militante pela causa gay? Você pode pensar, ok, seria algo legal. Vamos imaginar que a gente também curtisse a ideia e fizesse uma assembleia ali na mesa, entre nós dois, para criar o estatuto da associação. Eu seria o presidente e o maridão seria o secretário (só porque eu estou digitando o texto). O nome da organização? Bem, algo como a Associação Brasileira dos Gays Tomando Seus Bons Drink Na Mesa Dez ( na sigla, ABDGTSBDNMD). Surreal? Pois é algo muito semelhante o que ocorre na vida real. Continuemos. Maridão e eu somos gays, nisso todos estamos de acordo. Se nós somos gays, isso significa que podemos falar em nome de TODOS os gays do Brasil, que TUDO o que nós pensamos é o mesmo que TODOS os gays do país pensam, e que TUDO o que a gente decidir em nossas assembleias expressa a verdadeira, única e legítima causa gay. De certo você está discordando (espero que sim). Mas por que você aceita como legítimo quando a chamada militância gay faz a mesma coisa? Qual é a diferença? Eles são bonzinhos e nós somos malvados? Grupos de militância são formados de um modo semelhante (acho que apenas com menos álcool no sangue) e são igualmente ilegítimos em termos de representação.
Pôxa, seus dois chatos, mas o pessoal só quer o nosso bem! Então vamos continuar. Como todo bom grupo militante, a gente vai mostrar que também tem boas intenções. Alguns grupos querem coisas bacanas acabar com a homofobia, outros, em nome disso, inventam uma lei que cria uma casta e concede privilégios ao público gay. No caso da ABDGTSBDNMD, nossas metas são: quotas para gays em tudo, criação de uma bolsa-gay no valor de uma Louis Vuitton, distribuída mensalmente a todos os gays do país. Além disso, a gente quer que gays peguem fila preferencial e sejam VIPs em todos os eventos e estabelecimentos do país. Pena de morte para quem não gostar de gays. Pena de morte dupla para quem discordar da gente. Com certeza nosso discurso agradou, né (espero que não)? E, se nossas exigências são absurdas, novamente, nada muito diferente do discurso oficial do chamado movimento gay, que tem defendido tudo, até o José Dirceu (!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!). O que importa é que a gente, "os gays", se deem bem, certo? Errado. A versão gay do jeitinho brasileira é tão ruim quanto a tradicional.
Brincadeiras à parte, vamos aos fatos que motivaram a postagem:
Em primeiro lugar, nenhuma associação ou grupo de militância gay tem o direito de se colocar como representante "da comunidade gay do Brasil". Segundo nossas leis, só existem duas formas de representar uma pessoa: sendo eleito para tanto (como no caso dos políticos), ou tendo uma procuração legal do representado com esta vontade expressa. Pergunto a vocês: alguém aí elegeu os militantes gays? Alguém aí passou uma procuração dizendo que eles podem falar em seu nome? Eu não, e desconfio que sua resposta seja a mesma. Quando a ABGLT aparece publicamente se colocando como a porta-voz dos gays brasileiros, quem é que deu a ela este direito? Segundo nossa Constituição Federal, uma associação só fala em nome de seus associados! Nem a ABGLT, nem qualquer militante tem o direito de falar em "nosso" nome! Quem faz isso sem ter a devida autorização legal não passa de um...autoritário! Se eles podem fazer isso, por que maridão e eu não poderíamos? Se eles podem vir a público dizer que os gays do Brasil aplaudem José Dirceu, por que eu não posso dizer qualquer outra bobagem motivada pelas minhas preferências pessoais e atribuir isso aos gays? E por que raios alguém acha que eles podem fazer isso e você tem um problema se discorda do discurso de um grupo autoritário que monopoliza a "causa" gay para si????
Por falar em causa gay um adendo se faz necessário: NÃO EXISTE UMA "CAUSA" GAY. Existem grupos com interesses, muitas vezes partidários - o que é ainda pior, pois independente do partido, passam a defender o que e útil ao partido, e não aos gays que supostamente representam - que escolhem uma causa e dizem que ela é a "causa gay". Foi o que ocorreu com a homofobia. Que ela existe, é fato. Que ela deve ser combatida, é outro fato. Mas ela está sendo tratada de modo tão banal que tudo passou a ser homofobia, gerando um discurso que beira (e às vezes supera) o patético . E a quem interessa isso? A você? A mim, não.
Quer saber qual é minha causa? Quer saber o que oprime este pobre casal gay que publica o DPNN? Eu digo: falta de grana. O resto a gente tira de letra. Não existe "causa" nem "movimento gay", pois ser homossexual não é uma ideologia, homossexuais não formam uma classe homogênea, ser gay não faz com que todos pensem e vejam o mundo da mesma forma, tenham as mesmas necessidades e sofram com os mesmos problemas. Indivíduos diferentes possuem necessidades diferentes, achar que exista uma causa gay é ignorar a diversidade que a militância tanto diz defender.
Era isso.
Ps. para quem quiser se filiar à ABDGTSBDNMD, basta pagar a anuidade. Para ser membro da ABGLT você tem de pagar o valor de um salário mínimo por ano. Como somos mais camaradas, basta nos pagar um bom drink que você passa a ser filiado e gozará de todos os benefícios da nossa militância.
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