domingo, 3 de abril de 2011

A Arte da Políticagay


Marta Suplicy & Jair Bolsonaro. Dois políticos que normalmente têm seu nome associado à questão gay, por causas opostas. Será?

Tudo começou na campanha eleitoral para a prefeitura da cidade de São Paulo. O até então quase desconhecido Kassab despontava à frente das pesquisas, ficando evidente que não haveria mais segundo turno. Logo atrás, Marta Suplicy e Geraldo Alckmin disputavam a segunda posição. Foi quando a petista deu a cartada final: colocou no ar a propaganda mais homofóbica de que se tem notícia, de forma bem covarde, indagando ao eleitor se o Kassab era casado, se tinha filhos, insinuando, obviamente, que era gay, e que não era confiável. O tiro saiu pela culatra e a população em geral ficou chocada com a baixaria. Resultado: Kassab ganhou no primeiro turno e a candidata petista caiu na execração pública. A reação da comunidade gay foi tímida, até porque 99% dos movimentos gays são liderados por petistas.

E não era a primeira vez que Marta enfiava o punhal nas costas o público gay. João Silvério Trevisan, conhecido ativista gay e pesquisador da homossexualidade, em entrevista ao Instituto Humanitas Unisinos, conta sua experiência com a senadora, quando foi prefeita de SP:

“EEm 2002, no início do governo da Marta Suplicy em São Paulo, um grupo supra-partidário GLBT, do qual eu fazia parte, organizou autonomamente por três dias, na Câmara dos Vereadores, um Seminário de Políticas Públicas Homossexuais, quando ainda nem se pensava nisso. (...) Nos três dias de intensos debates sobre políticas públicas voltadas para homossexuais, apontamos ações necessárias nas áreas de saúde, educação, profissionalização, leis e atendimento legal e psicológico à população GLBT. Ao final, elaboramos um documento, que posteriormente foi apresentado a então prefeita Marta Suplicy. (...) A prefeita simplesmente recusou-se a receber nossas conclusões, pensadas justamente para ajudar um governo que, pensávamos, iria contemplar as necessidades da população homossexual. Boicotado pelas lideranças que apoiavam a então prefeita, nosso documento e suas conclusões caíram no esquecimento.(...) O silêncio em torno das conclusões do Seminário de Políticas Homossexuais foi apenas mais uma evidência de como o governo do PT na cidade de São Paulo foi um dos mais avessos à comunidade homossexual paulistana, por incrível que pudesse parecer a todos/as nós que lutamos para eleger Marta. Ambiciosa por uma carreira política de longo alcance, a então prefeita preferiu nos dar as costas e mostrar-se mais palatável aos eleitores evangélicos e conservadores. Para quem pôde e quis entender, foi um exemplo acabado de como as razões partidárias se sobrepõem, indiscutivelmente, às razões dos movimentos sociais. Foi o que sentiram os militantes GLBT diante dos policiais da Guarda Civil que barraram sua entrada na Prefeitura, enquanto as portas do prédio se fechavam para evitar que eles fossem falar com a então prefeita, como pretendiam. Muitos deles/as choraram inconsoláveis diante da cena. Foi um dos últimos gestos anti-homossexuais do governo Marta Suplicy, já no apagar das luzes da sua gestão em São Paulo. Acho difícil esquecer tal desfaçatez. Sobretudo porque ela é uma clara evidência de que a luta homossexual serve enquanto não atrapalha as pretensões do partido”.

Depois da fatídica propaganda, Marta não ganharia nem eleição para síndica de prédio aqui em SP. Pesquisas internas do partido mostraram que Marta perdeu votos justamente por esses motivos. Para que possa concorrer à prefeitura em 2012, o próximo passo seria tentar “limpar” sua imagem pública, mostrando-a como a madrinha dos gays de outrora. Não por coincidência, a primeira coisa que ela fez ao chegar ao senado foi desenterrar o inglório PL122. Não por menos coincidência ainda, durante a Marcha contra a Homofobia, "apartidária", é claro, lá estava ela, à frente de todos, segurando a faixa e dando entrevistas no lugar dos organizadores. Por coincidência, imediatamente o tema voltou à TV, e novas notícias sobre o quanto SP é a cidade mais homofóbica do planeta começaram a pulular na mídia. Só não liga os pontos quem não quer. A campanha para 2012 já começou.

Do outro lado, a bola da vez é o tal Jair Bolsonaro. O deputado, vez ou outra aparece na TV, com declarações bombásticas sobre temas polêmicos. O que acho dele? Um cara infantil, imaturo, insignificante – embora politicamente incorreto, creio que nem ele acredita de fato no que diz. Uma figura folclórica como a Cuca, do Sítio do Pica-Pau Amarelo. Só isso. Não acho que seja a encarnação do demônio, nem que seja a volta de Adolf Hitler em terras brasucas. Vejo, em geral, um exagero imenso na reação às suas falas, o que acaba dando ainda mais visibilidade a ele e transformando-o em alguém maior do que de fato é. O cara quer holofotes, e sabe como conseguir. O que eu acho mais intrigante nos textos indignados que eu li sobre ele, nesta semana, é que as pessoas não percebem, mas neste momento revelam o quanto são autoritárias. Tão autoritárias quanto ele, só lhes falta o poder. Se pudessem, já teriam linchado o cara. Ou pelo menos iriam impedi-lo de falar. Toda censura sempre se coloca como algo “a favor da população”, para o bem geral. E a gente já sabe onde isso termina.

Sempre defendi isso aqui, então me sinto à vontade para dizê-lo: sou 100% a favor da liberdade de expressão. 100%. Isso significa que, mesmo não concordando com o Bolsonaro, defendo totalmente o direito dele de dizer o que pensa. Se incorrer em crime, que seja julgado e punido dentro da lei. 

Acho que as pessoas no Brasil ainda não entenderam o que significa liberdade de expressão. Liberdade de expressão não pode existir apenas para que as pessoas digam aquilo com o que você concorda! É justamente em episódios como esse que podemos realmente exercitar nossa democracia.

Dois políticos que têm seu nome associado à questão gay. Dois pesos e duas medidas. O que é pior? Um que abertamente diz que é contra a homossexualidade ou outra que é a favor quando é conveniente? Que cada um tire suas conclusões. 

Da minha parte, uma coisa é certa: nenhum dos dois jamais terá o meu voto.

12 Comentários:

Unknown disse...

Eu acho o Bolsonaro ingênuo e politicamente despreparado. Por isso fiz aquela postagem no blog comparando-o ao Tirica. Cada um no seu quadrado, mas ambos estão lá pra nos fazer rir. O Tiririca por razões mais óbvias, porém, mesmo com as evidências, ainda é cedo pra afirmar que ele não irá surpreender. Nunca se sabe...
O Bolsonaro, ao contrário, já cumpre o segundo mandato e, como não tem preparo para apresentar propostas produtivas ao País, ou sequer fazer coisa melhor, vem reiterando com mais força a sua implicância com os gays (que começou no seu mandato anterior). Com certeza está conseguindo notoriedade. Contudo, acho eu, isso se deve ao fato de os gays mais ativistas não quererem correr riscos de andarem pra trás - para onde Jair Bolsonaro nunca saiu - e não admitem posições retrógradas seja de quem for.
Pessoalmente, não vejo como e o deputado ficará mais no plano patético/ridículo apoiado por frentes conservadoras, como a evangélica, cujo poder se deve exclusivamente ao volume e nada pela capacidade política.
Agora, quanto à Marta, nem acho que se deva compará-la ao deputado, pois esta, sim, é uma raposa que faz uso de armaldilhas camufladas, mas, por outro lado, queiram ou não, é uma das pioneiras dos direitos LGBT, numa época em que a classe não tinha voz política nem parlamentares que a apoiassem. Ela é autora do PLC 122, o qual visava, já em 1995, a união civil homossexual.
Bj.s

Unknown disse...

Uma correção: o PLC apresentado pela Marta Suplicy em 1995 é o de nº 1151. O de nº 122, equivocadamente mencionado acima, é aquela famoso que visa a criminalização da homofobia.

DPNN disse...

Pois é, Junnior, tanto SP (Marta) quanto RJ (Bonossauro) estão pessimamente representados em Brasília... mas ainda acho que nossos representantes são um belo retrato do que é nosso país de fato. Infelizmente.

Rodrigo disse...

esse cara é o lixo, mas o que é pior, é pensar nas pessoas que o colocaram lá...

Falando com Gabi disse...

infelizmente temos poucos politicos serios pensando na causa GLBT, tanto Bolsonaro quanto Marta estão se aproveitando dessa exposiçao na midia, bolsonaro ganhando voto dos cristãos e Marta dos gays.
Bom, estou escrevendo no Para Lady's e estou passando aqui para divulgar o meu post de hoje, sexo na história, se puder dar uma passada por lá ficarei grata.
abraços.
http://blogparaladys.blogspot.com/2011/04/falando-com-gabi-sexo-na-historia.html

..::voy::.. disse...

'foi um exemplo acabado de como as razões partidárias se sobrepõem, indiscutivelmente, às razões dos movimentos sociais'
sem mais...

abraços do voy

Dan disse...

o pior é pensar no povo que vota neles...

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

Continuo afirmando que o pior de tudo é q tudo isto é o retrato de nossa sociedade tupiniquim ...

Gui disse...

Acho que todo mundo tem o direito de falar o que quiser, mas também tem que lidar com as consequências.

Se o mesmo fosse feito com os judeus ou negros (o que de, certa forma, foi feito, embora ele alegue não ter entendido a pergunta) o buraco seria mais embaixo.

Acho que aí é que a criminalização da homofobia. A 'mordaça' gay é igual à 'mordaça' negra ou religiosa.

Acho liberdade de expressão algo muito complexo de ser discutido. Nesse caso, Bolsonaro tem TODO direito de falar. Mas pode não ser punido com severidade pelo que falou.

E aí?

Fred disse...

Bem contextualizado. Curti.
Mas o fato que hoje em dia todo mundo sabe aproveitar as conveniências que as situações podem trazer... Mas o lance nesse caso político é mesmo o voto. Ou melhor: o não voto. Congratzzz! Hugzzz!

S.A.M disse...

O pior é que sendo ruim ou bom, foi ela quem desarquivou a PLC 122, eu sinceramente espero que ela consiga fazer algo de decente pra merecer nosso voto.

Tambem não dá pra radicalizar porque quem mais se movimentou pra fazer algo de prático a nosso favor?

Beijo.pros.dois!

P.S.: Adoro finalizar assim! haha

DPNN disse...

Aí é que tá, SAM, eu não acho que o PL122 seja algo a nosso favor... muito pelo contrário, até.

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