quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

A opção pelo atraso...



"Mas a maneira como ela foi batendo no peito e apontando o dedo pra mim era pra mim ter quebrado o dedo dela e ter dado um monte de porrada e ter deixado ela desmaiada no hospital". (Dourado, no BBB)

"Assim, se você for votar em favor de um cara misógino, machista e homofóbico que usa uma suástica, pense em Auschwitz, reze por Auschwitz!" (Jean Wyllys, no Twitter)

"Diga-me em quem votas, e te direi quem és". (essa é minha mesmo)


Como 99% da população brasileira, eu também estava vendo o paredão do Big Brother. Embora eu não tivesse esperanças de um resultado diferente, no fundo, como bom romântico, ainda tenho a péssima mania de ter fé na humanidade, e confesso que torci para que o povo brasileiro me surpreendesse desta vez.

A eliminação da Angélica, e mais do que isso, a opção pelo Dourado, não são meros resultados de um jogo televisivo – numa análise mais profunda, mostra muito mais, a que ponto nosso país regrediu nos últimos anos. Houve uma época em que eu pensei que finalmente o país iria evoluir: liberdade política, inflação controlada, mais pessoas tendo acesso à educação. Mas, em vez disso, o que vimos, nos últimos anos, foi uma regressão total, a valorização do "jeitinho brasileiro", do peleguismo, do “só é errado/crime quando os outros fazem”. Ética? Coisa mais burguesa e reacionária! A boa e velha meritocracia está morta e enterrada.

Quem já teve a oportunidade de ir pra fora do Brasil, como foi o meu caso, quando volta, é tomado por uma tristeza profunda. Não por saudade ou nostalgia, mas por ver o quanto nós somos atrasados por opção.

Ganhei uma bolsa e estudei por um tempo na Alemanha, e o primeiro choque que tive ao chegar lá foi ver que, na mentalidade alemã, o normal é você confiar nas pessoas. Ninguém espera que você vá fazer a coisa errada, que vai ser desonesto, que vá arrumar um jeitinho de se dar bem passando a perna no outro.

Quer um exemplo: os jornais ficam expostos sobre uma mesa na esquina da rua, com uma latinha ao lado. Você vai lá, coloca o dinheiro e pega o seu. Não fica uma pessoa ao lado, e, acreditem, pois eu vi com meus olhos: NINGUÉM rouba o jornal ou o dinheiro da latinha!

Outro? O mesmo vale para atravessar a rua. Se o semáforo estiver vermelho, nenhum pedestre atravessa, mesmo que não exista carro algum na rua!

Mais outro: as ruas são limpas, ninguém joga papel no chão. Multa? Não, cidadania!

E olha que eles têm um passado bem condenável, como nos lembra o Jean Wyllys lá em cima (de quem nem sou lá muito fã, devo admitir, mas isso fica pra outro momento.)

Você pode estar pensando: se tudo é tão perfeito, porque não volta pra lá? A resposta é simples: as coisas por lá são assim porque eles querem que sejam. Nada, absolutamente nada nos obriga a sermos do jeito que somos.

Voltando ao Big Brother. O sucesso de um cara como o Dourado, agressivo, grosso, rude, homofóbico, misógino, machista é a mais completa expressão da nossa opção pelo atraso. E não pensem que vai ganhar o programa APESAR disso, vai ganhar POR CAUSA disso...sad but true.


PS. Por mim, deixava o Dourado lá dentro da casa pro resto da vida...

PS. Angélica comprovou que eu estava certo em torcer por ela...

3 Comentários:

Wans disse...

Por acaso,meu caríssimo 01, vc é amigo do Rick e se chama Renato?

DPNN disse...

Respondendo:

1) Não. Nem sei quem é.
2) Também não.

Wans disse...

Foi pelos gostos, pelas idas ao centro, pela Alemanha. Bateu tudo!

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