Conduta Imprópria & Parágrafo 175: o Holocausto Gay em dois Documentários
O post de ontem me fez lembrar de tema correlato que mostra o lado obscuro a que o homem chegou na questão do combate à homossexualidade. Aproveito então para falar um pouco sobre um tema que pesquiso e indicar dois documentários que todos deveriam ver - que mostram que tanto direita como esquerda já tentaram livrar o mundo da temida "praga gay".
No meu doutorado, trabalho, em parte, com a questão da identidade alemã durante o período nazista. Um ponto ainda pouco estudado é a perseguição que os homossexuais sofreram durante o nazismo. Este tema é abordado em um documentário fundamental não só para o público gay, mas para todos os humanistas que restam neste mundo. O filme se chama Parágrafo 175 e foi lançado no Festival de Sundance, no ano 2000, tendo recebido o prêmio de melhor direção (Rob Epstein e Jeffrey Friedman). Narrado pelo ator e ativista gay Rupert Everett, o longa conta a vida de homens e mulheres vítimas do regime nazista por conta de sua orientação sexual.
O Parágrafo 175 a que o título se refere, foi uma emenda ao Código Criminal alemão, instituída em 1871 (e que durou até 1994!) que tornava crime qualquer relação homossexual. A lei foi pouco empregada até a chegada dos nazistas ao poder, quando bastava uma acusação para que alguém fosse mandado à cadeia ou a um campo de concentração sob a acusação de homossexualidade.
No filme, vemos que entre 1933 e 1945 cerca de 100.000 pessoas foram condenadas por conta da lei, sendo que aproximadamente 15.000 delas foram mandadas a campos de concentração, onde sofriam não apenas nas mãos dos nazistas, mas também dos demais presos. Por conta desta situação, apenas 4.000 sobreviveram para ver o fim da guerra. No ano 2000, quando foi lançado o documentário, menos de 10 ainda estavam vivos, dos quais 6 concederam entrevistas e falaram pela primeira vez sobre o assunto (entre eles, Pierre Seel, que narra como viu seu companheiro ser devorado por cães diante de seus olhos!).
O mais bizarro é que o Parágrafo 175 não foi revogado com o fim da guerra, e, ao contrário dos judeus, muitos homossexuais permaneceram presos por anos. Além disso, não eram reconhecidos como prisioneiros de guerra, o que os impedia de receber indenização por parte do governo alemão. Apenas em 1994, após a reunificação da Alemanha, a lei foi finalmente revogada. Para quem se interessou, o filme pode ser encontrado aqui.
Veja aqui o trailer do filme:
A perseguição aos homossexuais não foi uma prerrogativa alemã, é claro. Em Cuba, até 1979 os gays também eram mandados para campos de concentração. Para quem ainda cai no conto da esquerda, vale a pena ver o documentário “Conduta Imprópria”, dirigido por Néstor Almendros e Orlando Jiménez, e que trata sobre a perseguição aos gays cubanos desde a chamada "Revolução Cubana" até o início dos anos 80. Não achei um link para baixar, mas dá pra ver na íntegra no youtube mesmo. Aqui um trecho:
Vendo a reportagem de ontem eu fiquei pensando se não aprendemos nada com a história. Em todos os casos, a mesma justificativa: estão agindo para o bem da própria sociedade. Nunca é demais lembrar: no Irã de hoje as pessoas acusadas de homossexualidade são enforcadas em praça pública.
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3 Comentários:
Sempre quis saber mais a respeito, mas a impressão que tenho, é que não há material suficiente. Quando vi Bent, era mais novo e me dei conta sobre esses judeus que sofreram em duplicidade.
Outra coisa que me irrita, é que filmes e séries sobre a segunda guerra, nunca retratam soldados homossexuais. Fico emputecido, pois deviam existir milhares.
Fiquei curioso e vou baixá-lo.
bj, queridos.
Wans
Material até que existe, mas pouca coisa em português, a grande maioria em alemão e inglês. Sobre a presença de homossexuais entre os soldados alemães, existiam muitos, praticamente toda a SA era gay, em especial o seu líder, Ernst Röhm, gay pra lá de assumido. Uma dica de livro lançado aqui no Brasil é "O Segredo de Hitler", que fala sobre a suposta homossexualidade do Führer, além da ampla presença de gays no partido nazista.
Um abração!
Como se tem acesso ao seu doutorado? Muito me interessa o assunto...
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