quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Da Cor do Pecado


Quem nos conhece pessoalmente sabe que eu sou bem branquelo e o marido é morenão. Quem não conhece, é só olhar a amostra grátis aí na foto - tirada na mesma semana em que fomos para a praia (ou seja, eu estava me sentindo o maior negão, até usando regata...rs...)

Ontem estava vendo o programa "A Liga" e me lembrei de algo que só vim a tomar conhecimento depois de começar a namorá-lo: a cor da pele faz uma grande diferença em nossa sociedade. Mesmo morando na periferia de São Paulo, nunca tive problema, nunca me olharam torto. Motivo: por um acidente geográfico, sou branco, loiro, de olhos claros.

No programa de ontem foi mostrado um quadro em que colocaram dois "manos cafuçus" para andar na rua Oscar Freire (rua mega chique aqui de SP). Eles estavam vestidos à moda periferia: camiseta de time de futebol, bermuda, bombeta. Além disso, ambos eram mulatos.

Era só a dupla chegar perto de uma loja para despertar o terror dos seguranças - até chegar ao auge, quando apareceu uma viatura com os policiais apontando as armas para os dois, pois havia uma denúncia de que estavam armados!

Antes de namorar o maridão, eu nunca fora parado pela polícia. Para vocês terem uma ideia, quando eu cursava a graduação, estava no ponto de ônibus, voltando para casa, por volta da meia-noite, quando vi uma viatura parar diante de mim, com luzes e sirenes. Os dois policiais desceram, e foram logo abordando dois alunos que também estavam no mesmo ponto de ônibus. Os dois eram negros. Revistaram a mochila, fizeram mil perguntas, desconfiados, mandaram encostar no muro. Quando eu já me preparava para minha vez, eles simplesmente entraram no carro e foram embora. Nem notaram minha existência. O maridão zomba de mim até hoje, por conta do meu fetiche por fardas. O trágico é que os dois policiais também eram negros!

Pois então: bem no segundo dia do nosso namoro, estávamos parados dentro do carro, lá na universidade, apenas conversando, quando fomos abordados pela polícia. Pediram para descer, fizeram mil perguntas. Depois disso, foram várias outras vezes. Agora, com a moto, então! E quase sempre querem saber se eu o conheço de verdade!

Certa noite ele me deixou em casa, e no caminho para a sua, que fica bem perto, foi parado por várias viaturas, e os policiais já chegaram perguntando qual era o seu "artigo". Ele até diz que ficou pensando no alemão (piada interna: a língua alemã possui três artigos, o masculino, o feminino e o neutro - a coisa mais difícil é saber o gênero da palavra, e ao contrário do inglês, saber o gênero faz toda a diferença.)

Às vezes a gente entra numa loja e ele logo comenta: dá uma olhada no segurança. Tiro e queda: lá está o segurança o seguindo! Ou então quando a gente está na rua e uma mulher que está na frente começa a andar rápido, olhando para trás, segurando a bolsa com medo. E olha que ele é bonitão!

Na minha ingenuidade de branquelo, jamais tinha percebido essas coisas. A gente só percebe quando sente na pele.

A mesma coisa sobre ser gay. É difícil um hétero entender como é ser olhado torto só porque você está de mãos dadas com o seu amor, ou ter de mentir para poder doar sangue. Isso sem falar na dureza que deve ser a vida dos travestis!

Tanto na questão da pele quanto na da orientação sexual, a pessoa é vítima. E o mais cruel é que, nos dois casos, o único "crime" é ser ela mesma.

Ps. Em tempo: Feliz Ano Novo!

6 Comentários:

Wans disse...

Adorei ver um pedacinho dos dois. E ó, essa noite, sei lá por quê, sonhei com os dois. Provavelmente nem sei como são, mas lembro que no sonho os chamava de 2 perdidos.

Quanto a cor da pele, vcs sabem que Melo e eu somos branquíssimos e tb nunca fomos parados. Nunca fiquei numa batida. Sei lá como funciona, mas já vi homnens morenos sendo parados enquanto passava na rua e nem fui abordado. E com o monte de tatuagens que tenho, poderiam achar que sou um maloqueiro, mas nada. nem me olham no rosto. É triste, mas é fato!

Diego Hatake disse...

Primeira vez visitando o blog e devo dizer que gostei muito do post, afinal eu me identifico muito com isso, ao menos no que se diz ao seu marido. XD Nunca fui revistado (ainda), mas ser seguido por seguranças em lojas pra mim é muito comum. Mas isso eu tiro de letra, como sou do tipo que revira a loja inteira em busca de algo que eu quero, eu acabo os cansando de tanto que eu rodo pelo lugar, hahahaha... XD
Enfim, favoritado aqui! =)

Unknown disse...

Pior de tudo é quando a gente nota negros com preconceito contra viados, viados contra judeus, judeus contra deficientes, e assim vai...

S.A.M disse...

Assisti A Liga e realmente é bem assim que a sociedade reage.

Unknown disse...

Eu achava que com a proliferação da raça humana(quase 7 bilhões mundo afora e quase 200 milhões no Brasil) essa questão de julgar o outro pela aparência fosse coisa do passado.
Semana que passou, foi preso o tal La Barbie, aquele traficante de drogas americano, naturalizado mexicano, procuradíssimo.
Todo bonitão, loiro, olhos claros, foi preso quando trajava uma vistosa e cara camisa polo Ralph Lauren, uma calça jeans mais justa na altura da canela (que está super na moda), hã?
Será que foi por isso que ele chegou ao posto do mais importante bandido do narcotráfrico dos últimos tempos? Dicotômico isso, ne? Até pra ser bandido hoje precisa de boa aparência.
Quem quiser ver a matéria da prisão do cara, o link é:
http://mais.uol.com.br/view/6570678
Abraços a todos.
Junior.

Alexandre Willer Melo disse...

sei como é pois já namorei morenos e negros antes de wans (aliás, nem sei como acabei com ele posto que tenho ujma queda pela alta madrugada sem lua).
mais de uma vez, na noite, eu entrava batido nos lugares e meu namorado era, por vezes, barrado porque era negro.
não adianta, é assim mesmo e não vai mudar mesmo...
nota: catava os dois fácil.....sou dessas..

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