terça-feira, 14 de dezembro de 2010

'I refuse to be a victim': Um Manifesto Por Gays Com Aquilo Roxo


Uma coisa que me deixou tremendamente desapontado quando vi as primeiras notícias sobre a “onda” de ataques a gays foi: isso vai dar merda. E foi dito e feito. Domingo, ao ler os jornais e visitar alguns sites, acabei encontrando notícias que mostravam que os gays paulistas haviam mudado seus hábitos, por medo! Que estavam evitando sair à noite, que outros só andavam em grupos, e muitos não iam mais à região da av. Paulista.
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Caralho!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
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O pior efeito do terrorismo, todos sabem, não é o ataque em si, mas a sensação de pânico constante que ele desperta nas vítimas potenciais. Sempre fui contra essa onda de terrorismo que muitos gays fazem em relação à homofobia, e sei que muitos não entendem nossa postura aqui no blog (já fomos até taxados de nazistas...). Tenho pavor de entrar em sites que só falam deste assunto! Já somos bombardeados, desde crianças, com mensagens de que ser gay é pecado, é errado, que vamos todos queimar no inferno etc. Não precisamos que os gays também sirvam como divulgadores apenas de notícias ruins. Quando criei o blog com o maridão, tínhamos uma postura já definida: nosso blog iria mostrar que ser gay é bom. Não apenas bom, é ótimo. Afinal de contas, alguém precisava dizer isso.
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Um exemplo: só nos últimos dias tivemos dois ganhos incríveis em termos de direitos, que passaram praticamente desapercebidos pelos blogs e sites gays, tão ocupados em divulgar o apocalipse. aqui e aqui. São coisas que alteram de verdade a nossa vida, e não episódios pontuais.
A vida de um homossexual pode não ser um mar de rosas, mas a do hétero também não é. Todos têm problemas, mas não podemos pautar nossa existência neles!
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Infelizmente muitos gays não percebem o quanto são manipulados com a “indústria da homofobia”, o quanto há grupos ditos militantes que só existem em função disso, e que sempre farão alarde para manter seu papel (inclusive porque recebem muita verba). "Submeta um grupo à sensação de medo constante e depois apareça como seu protetor" é um dos elementos mais básicos da lavagem cerebral.
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Gostaria muito de ter lido, nos jornais de domingo, que os gays haviam decidido NÃO se esconder, que estavam saindo MUITO mais, que JAMAIS aceitariam o papel de acuados e estavam dispostos a viver sua vida, agora, com uma motivação a mais. Gays, como diria aquelle outro, com aquilo roxo. Não é ser cego aos perigos, nem ser imprudente, mas se há uma coisa que podemos aprender com estas situações, não é nos sentirmos mais fracos, é justamente o oposto: mostrar força.
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Foi legal ver que as pessoas começam e se mobilizar e partiram para a ação. Já é um começo, embora eu veja mais um valor simbólico do que prático neste tipo de mobilização e não participaria deste em si. Mas foi bom ver que eram pessoas reais, e não militantes com bandeiras de partidos, nem deputados fazendo discursos. Maridão e eu sempre separamos os militantes dos ativistas. Militantes vivem no mundo das ideias, em geral são fanáticos e muitas vezes se portam como eternas vítimas das circunstâncias. Ativistas vão lá e fazem. (precisamos de menos militantes e mais ativistas).
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Ativismo não é só levantar bandeira, fazer protesto ou barulho – embora tudo isso às vezes se faça necessário. Ativismo é feito 24 horas por dia: na convivência com seus vizinhos, familiares, colegas de trabalho, na escola, na universidade, na internet – enfim, no mundo real e no virtual.
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E não estou falando de pregação! Se hoje em dia TODO MUNDO fica indignado quando vê um gay ser agredido, é justamente porque passaram a conviver mais com PESSOAS homossexuais e perceberam que o que esses SERES HUMANOS fazem na cama não os torna monstros, nem seres de segundo escalão, como antes se pensava.
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E não se pensava assim antes porque os heterossexuais eram seres ruins, mas por desconhecimento! E ainda é assim hoje: antes de apedrejar seu vizinho evangélico e chamá-lo de homofóbico, pense: com quantos gays eles já conversou na vida? Qual é a experiência anterior? Será que sua reação não está de acordo com seu histórico de vida? Sem contar que muitos gays são mais intolerantes do que aqueles de que são vítimas!
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Em artigo publicado na Folha de SP uns dois anos atrás, entitulado "A unanimidade é burra", João Pereira Coutinho discorre sobre como grupos fechados se tornam perigosamente intolerantes e extremistas. Ele termina o texto com uma metáfora que eu acho bem adequada:
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"Uma realidade fechada onde os diferentes membros se reforçam mutuamente numa espécie de endogamia intelectual e ideológica. Nós, os puros, contra os inimigos impuros: eis a mentalidade típica do extremista. De ontem e de hoje. (...) Porque as sociedades livres, no essencial, não se distinguem dos casamentos felizes. E não há casamento que resista quando trocamos vozes distintas por monólogos entediantes".
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Pluralidade sempre! Não dá pra sempre partir do ponto que somos vítimas e os outros são sempre algozes. No filme Beleza Americana há uma cena antológica na qual a esposa do personagem principal entra no carro e coloca uma daquelas fitas de auto-ajuda, repetindo constantemente: ''I refuse to be a victim.'' Proteste contra a homofobia, ok, mas que tal pararmos de apenas reclamar, esperando que outras pessoas resolvam nossos problemas? O mundo anda mais homofóbico ou a sociedade é que passou a repudiar e não aceitar mais esse tipo de coisa, aumentando o número de denúncias? Ser gay ficou mais perigoso ou apenas as agressões passaram a ser mais filmadas? Avançamos pra caramba! Vamos nos esconder nas sombras, jogar fora tudo o que conquistamos e voltar à toca ou nos fechar em guetos por medo de meia dúzia de trogloditas? Quem ganha com isso? Você?
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Ultimamente a homossexualidade tem estado em evidência na imprensa , será que não podemos aproveitar isso a nosso favor?
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'I refuse to be a victim.'

14 Comentários:

FOXX disse...

sim
lembro da reportagem da Globo
sobre o último ataque

falava q os ataques aconteciam entre 04-07h na verdade, eles qriam dizer q os gays deviam evitar esse horário, para não serem atacados, pq, no fundo, eles consideram corretos o ataque, eles no fundo dizem: vcs que fujam pra algum lugar onde se sintam seguros., é o q eles esperam de nós

Wans disse...

Aos poucos vamos conquistando espaço er nossos direitos. Eu ainda tenho esperança de que as coisas mudarão muito! Assim espero.

E na boa, meus caros, ainda nos vejo bebendo num bar do Arouche e falando sobre tuuudo!

Frederico disse...

ah mas dá medo toda essa situação, vc sai a noite e não sabe como vai voltar, mas também não podemos ficar escondidos

Aline Camargo disse...

Dois, eu adoro suas reflexões. Vc tem uns insights muito bons, eu admiro essa sua postura anti-extremista e ao mesmo tempo anti-conformista. Eu concordo que o momento está perfeito prá colocar em xeque certos paradigmas. Como dizem por aí, 'nada é por acaso'. A brutalidade dos últimos dias (talvez não mais do que sempre foi, talvez a percepção das massas é que aumentou devido ao desto das tecnologias de informação) pode estar servindo como propulsor (algo que sinceramente eu acho que faltava) para que todas as nuances desse universo multicolorido se mobilizem por uma causa acima de todas as suas diferenças.

Anônimo disse...

Hey,garotos, eu concordo plenamente com relação aos militantes. São sim extremamente agressivos e não sabem rspeitar a opinião dos outros, até mesmo de gays esclarecidos como são vocês.
Querem sempre impôr. Respeito não se impõe, conquista-se.
Texto maravilhoso como o blog de vcs, amo passar por aqui e os visito sempre.
Odeio entrar em um blog e lá só ter ataques a gays, homofobia, comentários de gente ridicula criminalizando os homossexuais... é um saco. Vira mais do mesmo e ninguém dá atenção a bebês chorões.
Me deixa super mal este tipo de assunto. É claro que é preciso se discutir, mas não tornar isto algo constante. Viver e ser feliz é tão bom...algumas pessoas renunciam isto e só tratam desta questão tornando-se mais ranzinzas, chatos, pedantes... vitimas de si mesmos.
Concordo com vcs!!!

..::voy::.. disse...

isso ai, disse tudo!
sempre houve ataques. a diferença eh q agora eles estão aparecendo nas mídias com maior intensidade.

bjs do voy

William Garibaldi disse...

Uhuuu!
É isso ai!
Eu Sou MUITO MACHO
e gosto de homem!
Quem vai encarar????
Vcs são feras!

Anônimo disse...

Darling 01;

I refuse to be a victim, too!

Vcs estão certíssimos!

P.s. Acho que vou voltar a frequentar o Arouche!

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

Eu continuo achando q a luta por conquistas de igualdade e respeito são sempre válidas, e participo ativamente [ação] de todas elas ... claro q daquelas sérias de q possuem uma percepção critica, longe de ser panfletária, preconceituosa ou oportunista. No entanto concordo plenamente com vc na perspectiva de q tudo é exatamente como sempre foi ... o q mudou é tão somente a visibilidade das coisas e, claro, o número de ocorrências tb aumenta diretamente proporcional à população ...
Minha vida continua a mesma ... sem neuras ou medos sem razão de ser ... não deixo e não deixarei nunca de ser o q sou e de viver como eu vivo ...

bjão queridos

;-)

Gui disse...

Olha, não adicionaria uma vírgula no texto de vocês, embora não ache que apenas a visibilidade aumentou.

Sobre ser chamado de nazista, toca aqui o/, também já fui.

Minha mãe sempre fala da violência e eu sempre retruco: "O medo jamais vai me fazer deixar de viver minha vida."

Cuidado é fundamental. O Medo, em si, também é fundamental. É importante que tenhamos medo, sim! É importante que saibamos o que possa acontecer entre 4-7h na Paulista. Mais importante ainda é estar preparado pro que vier e, jamais, deixar de fazer o que quisermos por causa do medo.

Ter medo, sim. Mas agir, apesar do medo.

Alexandre Willer Melo disse...

não poderia concordar mais com o post.
cada letra está mais do que perfeita.
cansei de ser a vítima também e os gays morrem todo dia no Brasil e não apenas nesses dias em que a mídia aponta seu foco e, arrisco dizer, não se trata de agressão a homossexuais mas de um ato animalesco na Av Paulista, por isso o destaque pois não é seguro para qualquer um andar por lá entre 4 e 7 da manhã.
tivessem os ataques ocorrido na periferia de sp, qual a importância que teriam?
não sou escravo do medo.
não mudei nada na minha rotina.
quero que um desses venha me bater na rua, conto com a visita de vocês na cadeia depois porque vai ser cena de sangue...
também acho que estamos sob a industria do medo, quando teremos um Stonewall aqui?
ou é pedir demais?

BsVoxx disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
BsVoxx disse...

Sintetizando meu comentaário anterior ... Concordo com voces em uma coisa: Ser gay é ótimo ... Só não entendi o link entre a existencia real da homofobia e a vitimização ... Fico feliz que vcs já tenham entendido que o ataque na paulista não foi um fato isolado ... Gays mudando de comportamento frente as repetidas agressões em um área não é covardia ... é preservação e prudencia ... Chego a infeliz conclusao de que realmente não vivemos no mesmo País ...

Anônimo disse...

Excelente! Disseram tudo mesmo!!

Uh... desculpa a falta de palavras pra comentar algo, mas vocês realmente disseram tudo, x).

Adoro os textos de vocês.

Abs, o/

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