SÃO PAULO GAY WEEK!

Depois da São Paulo Fashion Week, é a vez da São Paulo Fag Week! Se bem que....

Se tem uma coisa que ainda é amadora no universo gay é a divulgação dos eventos. Não sei se o pessoal tem algo contra a prática, se é algum resquício de culpa em ganhar dinheiro, ou se imaginam que há algum tipo de conexão telepática entre os homossexuais (que faz com que automaticamente todos fiquem sabendo dos eventos, sem a necessidade de divulgação). Realmente é um mistério...

Por que estou dizendo isso? É porque estamos bem no chamado "15º Mês do Orgulho LGBT" (nos outros vocês sente vergonha, tá? Brincadeira, ok?) e todos sabemos que são realizados diversos eventos ligados ao tema. Sim, sabemos que os eventos existem, mas se você quiser saber mais vai ficar querendo. Um exemplo: há pouquíssima informação disponível sobre a Parada Gay (me recuso a chamá-la por outro eufemismo). Se você quiser saber sobre os trios, por exemplo, vai ficar querendo. Eu só fiquei sabendo do show da Wanessa por terceiros, pois no site oficial não constava a informação.

Fui pesquisar sobre a "11ª Feira Cultural LGBT" e não há a menor informação sobre a programa do evento. Só sei que será no dia 23 de junho, das 10h às 22h, no Vale do Anhangabaú. O que exatamente vai acontecer, só no dia, pelo jeito. Anos atrás maridão e eu queríamos participar com uma barraca na tal feira. Nossa tentativa de armar a barraca foi frustrada: entramos em contato e só recebemos um e-mail tempos depois. Respondemos e estamos aguardando uma resposta até hoje. 

Ainda como parte da programação oficial, no sábado ocorre mais uma edição do Gay Day, no Playcenter. 

Comunicação, definitivamente, não é o forte deste pessoal. E acho que eles cometem um pecado capital nos dias de hoje: ignoram totalmente o papel de divulgação que os blogs possuem. Você que tem um blog já foi procurado por organizadores de eventos GLS para ajudar na divulgação? Nós só fomos uma vez, pelo pessoal da Banda do Fuxico. No site da Parada mesmo há um chamado para credenciamento de imprensa. Fui lá ver, mas os blogs não são considerados veículos de imprensa. Eu me pergunto: quem fala mais direto ao público gay, um blog com essa temática ou uma nota de três linhas num jornal? Acho que é preciso rever este paradigma. Se eu fosse realizar um evento GLS, com certeza iria querer que os blogs falassem sobre ele... Maridão e eu já fomos a alguns eventos que tinham tudo para "bombar" (como a Virada Esportiva), mas que não tiveram a menor divulgação e ficaram às moscas. Pelo jeito, a teoria telepática-gay não funciona. 

A gente que é daqui de SP acaba ficando sabendo de algumas coisas pelo boca a boca, mas o pessoal que vem de fora (tanto do Estado quando do país) deve perder boas chances de conhecer a diversidade  que compõe a vida dos gays aqui na terra da garoa. A maioria dos visitantes acaba seguindo o roteirão "gay para turista" formado por "Parada Gay + The Week". Vir para SP e ficar trancado numa balada é uma coisa que me causa tédio só de pensar! 

Se você está vindo para cá, vale a pena fugir um pouco da programação oficial e se arriscar a vivenciar um pouco o outro lado menos divulgado da vida gay em SP. Uma dica: se arrisque a conhecer o Centrão Velho da cidade. Não consigo imaginar algo mais genuinamente underground. Rua Augusta é para os "modernos", mas é mera emulação do que se vê lá fora (= Nova York). A região da Barra Funda e dos Jardins é para as "phynnas", mas é algo que você pode encontrar em qualquer grande capital do mundo, não tem nada de original. Desafio qualquer um a encontrar em outro lugar a "fauna e a flora" do Centrão: gente de verdade, "diferenciada", sem carão, se divertindo e sendo feliz do jeito que é, sem ter de se enquadrar num modelo inventado de "ser gay" que em nada se refere à sua vida. Em que outro lugar você encontra bares e baladas voltados aos ursos, aos nordestinos, às lésbicas, aos gays mais velhos, matinês para a molecada, botecos reunindo todo tipo de gente, ruas em que há travestis dividindo a calçada com nóias, drags, gente da periferia, gente com grana, barbies, michês, lésbicas de todos os tipos, casais heterossexuais... deu medo só de pensar? Viver é arriscado... mas ficar em casa esperando a vida passar não me parece a melhor das soluções. Eu ando na boa por aquela região, em plena madrugada, com tênis e roupa boa, além dessa cara de "rico", e nunca fui assaltado. Dê um pulinho por lá e depois me diga... vale pelo menos como experimento sociológico. 

Turistas, sejam bem-vindos, e esperamos que aproveitem ao máximo o que temos a oferecer!

E para quem mora aqui: tirem a bunda do sofá e aproveitem a vida! Reclamar que o mundo não é o ideal é fácil, difícil é assumir o risco de viver no mundo real...