terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

ABC Bailão - Embalos de um Sábado à Noite


Tenho uma teoria de que naquela fase da vida em que a pessoa faz a passagem da infância para a adolescência, lá pelos 11, 12 anos, ela acaba por desenvolver uma memória afetiva em relação à música que está em evidência na época. Atingi esta fase lá pelos idos de 86. Isso explica o fato de eu não ter o melhor saco para o rock dos anos 70, e de achar que os Beatles não são lá muito páreos para bandas como The Smiths, The Cure e New Order. Por que estou dizendo isso? Logo eu chego lá.

Sábado fomos conhecer um local, aqui em SP, chamado ABC Bailão. A primeira impressão, ao ouvir o nome, é de que se trata de um forrozão em algum município da região do Grande ABC. Não: é uma balada gay voltada ao público “maduro”, em pleno centrão.

Chegamos cedo e fomos conhecer o ambiente. O espaço físico, em si, é bem cuidado, até nos surpreendeu. Daria pra fazer boas festas no lugar. No começo, uma sensação de deslocamento, já que o público freqüentador é bem mais velho do que a gente, muitos tiozinhos na casa dos 40, 50, 60, 70... e por aí vai. Até aí, sem problemas. Subimos até o segundo andar, e de lá ficamos observando a paisagem geral. No telão, clipes dos anos 80 davam o tom. Iniciamos uma brincadeira: reconhecer a música com o menor número de acordes, sem a ajuda do telão, no estilo “Qual é a Música”. Após a jornada de clipes, o som prossegue com mais 80’s: Erasure, Depeche Mode, Camouflage, mais Depeche Mode. Depois muda pra forró, axé, para nacionais dos anos 80, músicas infantis dos anos 80...

Para uma cria dos anos 80, como eu, poderia ser o lugar ideal. E num primeiro momento fiquei embriagado pela música, e meu julgamento estava perdido. Mas aos poucos as fichas foram caindo - meu namorado é moreno e já tinha captado antes. Eu, como todo loiro, tenho a prerrogativa genética para demorar um pouco mais para entender as coisas... E a gente entendeu o sentido do “Bailão” do nome. É bem isso, mais como aqueles bailinhos que freqüentávamos na adolescência do que uma balada propriamente dita. Você junta seus amigos, coloca uma coletânea dos anos 80 pra tocar, acaba uma música, a outra começa. Sucesso garantido, ok, mas falta algo. Faltava aquele feeling que o DJ tem para cortar a música que não funcionou, mixar uma música à outra de modo a você nem perceber que já está dançando outra coisa, nunca deixar a pista esfriar. Falta aquele sabor da descoberta, de querer saber que som foi aquele que você não conhecia, de ser surpreendido por uma seqüência que você nunca poderia imaginar que fosse perfeitamente compatível.

A noite é, definitivamente, uma licença para se jogar no escuro e permitir ser surpreendido. Não é, definitivamente, espaço para certezas. A minha ficha só caiu quando, lá pelas duas da manhã, o DJ começou a tocar músicas mais atuais. Foi ali que eu percebi que, nós dois que levamos este blog adiante, somos pessoas que estão vivendo NESTA época! Que é cedo demais para ficar preso às memórias afetivas, celebrando uma época que não volta mais, e que, quando vivemos, não era flashback, e foi por isso que marcou.

Meu amado sempre diz que nós temos a possibilidade de florear o passado e pintá-lo com cores que ele não necessariamente tinha. As décadas anteriores foram boas? Ok, mas nós temos o grande presente que é estar vivendo o AGORA! E, a menos que você se esconda ou se apegue ao passado, os dias atuais estão aí para quem tiver coragem de aproveitá-los. Há muita coisa ruim hoje? Vai me dizer que tudo nas décadas anteriores era perfeito? Você pode ter 20, 30 ou 80 anos, nada te impede de ser uma pessoa dos anos 2010. A atualidade não é uma dádiva concedida apenas aos adolescentes.

Em suma: o local em si é bacana, a música é boa, o público parece se sentir em casa, mas, por mais contraditório que possa parecer, nos divertimos bastante, mas nos sentimos literalmente perdidos.

A grande lição que tiramos da experiência foi a de que nós sabemos que não somos mais os adolescentes da virada dos anos 80 para os 90, mas o que somos hoje é infinitamente muito melhor. Melhor inclusive, porque hoje temos um ao outro. Há um mundão de coisas lá fora pra descobrir, e a gente ainda tem uma paixão muito grande por isso! Como diria o Simple Minds, naquela velha canção: alive and kicking!

(Só pra registrar: nuncaantesnestepaís,nestes anos de vida noturna, vimos um episódio como o que aconteceu: de repente, enquanto estava dançando, sinto alguém ser derrubado aos meus pés, quando olho, era um cara sendo imobilizado por vários seguranças, que o arrastaram escada abaixo, passando com ele pelo meio da pista. Até agora não entendi direito se era uma tentativa de furto ou briga, mas achei bem chocante. Também foi a primeira vez que vimos alguém fumando em uma casa noturna após a lei antifumo, mas felizmente os seguranças foram lá e deram um jeito - não da mesma forma anterior, diga-se....)

4 Comentários:

Wans disse...

Felizmente não cheguei a presenciar nenhuma briga no local. Como te disse, gosto muito do som, das pessoas e do lugar. Legal vc ter pelo menos conhecido.

bj

Euzer Lopes disse...

Eu entrei na adolescência nos anos 80. Tinha 11 anos quando vi, em Plumas & Paetês, Elisabeth Savalla dar vida à Marcela que Isis Valverde defendeu com tanta bravura no remake de Tititi este ano. Hoje, aos 42, sei que o Bailão (sim, você captou) é o bailinho de garagem que fazíamos naquela época, de um jeito natural. Infelizmente tem gente que leva esta naturalidade da adolescência ou dos tenros anos da fase adulta a extremos que obrigam seguranças a trabalharem. O ABC Bailão é um lugar onde você pode se jogar e deixar que o som e os ponteiros do relógio te levem para o dia seguinte bem feliz!

www.meioameioblog.blogspot.com

Anônimo disse...

Ah, sou Jovem, mas dificilmente quando vou a SP deixo de fazer minha visita básica ao Bailão que por sinal é maravilho. Um abração em tod@s

Unknown disse...

Navegando pela net eu ví esse comentário aqui de 2010 sobre o ABC Bailão, uma casa que simplesmente eu adoro. Me sinto em casa. Um local em que eu posso reviver minha infancia dos anos 80. Hj estou com 35, mas me sinto um garoto quando estou lá e viajo nas músicas. Fora o público de lá que é legal. Que lugar de SP que vc vai e pode ouvir Olivia Newton John cantando: Xanadú? Maravilha nééééééé.

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