O Broxa e A Purpurina

Semana passada lá estava eu, descendo as escadas da estação Pinheiros do metrô (aquela estação que é tão profunda que, com mais um lance de escadas, faria a ligação São Paulo - China), quando assisto a uma cena sui generis:

Passa por mim A Gostosa, usando uma calça mais justa do que a justiça divina, revelando todas as curvas  abundantes que Deus lhe deu e a terra (e muito homem) há de comer. Ela sabia que era poderosa e não tinha vergonha de mostrar e humilhar as demais mortais. Logo atrás subia uma turma de machos-testosterônicos-pós-adolescentes, com seus hormônios em polvorosa diante de tamanha alquimia feromônica. Um deles, para se exibir ao bando e assumir o posto de macho-alfa, começa a declamar em voz alta os singelos versos do mais novo hit de Michel Teló:

"Nossa, nossa, assim você me mata!

Ai se eu te pego, ai ai se eu te pego!"

Ciente de que estava arrasando, o novo líder do bando reforça seu grito viril:

"Delícia, delícia, assim você me mata!

Ai se eu te pego, ai ai se eu te pego!"

Ao ouvir isso, A Gostosa, do auge de seu poder e do alto de seus saltos simplesmente se vira para trás, olha bem nos olhos do cara, e pronuncia pausadamente, escandindo as sílabas, em alto e bom som:

"Você broxa".

Silêncio sepulcral seguido pelo mais humilhante brado retumbante vocálico que a raça humana já foi capaz de produzir. "Aêêêêêêêêêêêêêê!!!!!!!!!!" Centenas de pessoas olhando na direção do micromacho, agora quase reduzido a cinzas. Não sei como o cara não se jogou escada abaixo. Deve ser por isso que as novas estações do metrô possuem aquelas portas antissuicídio, separando a plataforma dos trilhos.

Eu ali do lado dela, só conseguia pensar: "DIVAAAAAAAAAAAAAA!!!!!!!" Mas é claro que fiquei quietinho, rindo apenas por dentro. Vai que o cara sente sua masculinidade ameaçada e resolve se vingar batendo no gay aqui, né? 

Com as devidas diferenças, não foi algo assim que aconteceu na semana passada aqui em SP? Dois machos-alfa chapados foram dar em cima de uma garota na balada, a garota deu um fora neles, o casal gay estava ali por perto e intercedeu a favor da menina, os machos-alfa se sentiram humilhados em sua machice-alfa e pegaram o casal gay na saída, afinal, bater em gay é mais fácil do que pegar mulher. O casal gay apanhou e os machos-alfa voltaram felizes e satisfeitos para casa - mas, como diria o Casseta & Planeta, sem comer ninguém.

Aproveitando a deixa, confesso que não entendi a manifestação facebooketiana feita neste sábado, para protestar contra o ocorrido: o pessoal marcou de fazer uma vigília de meia hora (das 23h30 às 00h00, estrategicamente antes da balada), numa esquina perto da Av. Paulista, acendendo velas coloridas (estão querendo agourar o cara que está internado??????????) e, à meia-noite, jogaram purpurina no chão da encruzilhada (???????????????????????????). Confesso que não entendi a simbologia avançada do ato, mas  consigo imaginar a quantidade de pomba-gira que deve ter baixado por lá...

Enfim...voltando ao comentário dA Gostosa, fica a inquietação filosófica-existencial:

Você já broxou?

Eu já.

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