sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Exército De Um Gay Só



Boa parte da forma como as pessoas acabam encarando a ideia de militância gay vem de uma questão ainda mal resolvida dentro do próprio "movimento" (aspas imensas, por favor), mas natural se considerarmos que ainda é algo relativamente jovem.
.
Quando surgiram os primeiros grupos gays organizados, lá pelos anos setenta, o mote era o foco na questão da diferença. Existia uma necessidade de marcar uma identidade em oposição a tal heteronormatividade, fosse pelo modo de se vestir, pelo comportamento sexual, pela criação de códigos próprios, de clubes, bares... Era necessário mostrar: existimos e somos desta forma. Na sua época (eram outros tempos), pode-se dizer que conseguiram seu intento. O problema foi a cooptação destes grupos por partidos políticos de esquerda, e a pauta original acabou dando lugar a agendas partidárias.
.
Na década de 90, por conta destas e outras questões, gays insatisfeitos com aquela direção acabaram adotando um novo enfoque: o exagero na diferença levava à segregação, aos guetos, a uma dicotomia gay x hétero que só reforçava o preconceito. Melhor então lutar por igualdade de direitos. O mote não era mais o "somos diferentes", mas sim o "somos iguais a todo mundo, logo, temos de garantir os mesmos direitos". Para o pessoal da geração anterior, o "movimento" (aspas gigantes de novo) gay estaria indo para "a direita". Novamente, pode-se dizer que foi algo importante em seu tempo, pois trouxe à tona questionamentos pertinentes.
.
Creio que aqui no Brasil ainda estejamos na encruzilhada entre estas duas visões, algo natural do choque de gerações, com suas briguinhas entre esquerda e direita, tão babacas como em qualquer outro setor da atividade humana.
.
Vejo os discursos dos líderes gays brasucas (quem lhes conferiu tal status de autoridade? você?) na imprensa e fico me perguntando: afinal, o que eles querem, já que pedem coisas contraditórias? Querem diversidade e igualdade ao mesmo tempo? São coisas antagônicas! Só existe liberdade dentro da diferença, assim como só existe igualdade se você eliminar a liberdade!
.
Talvez a saída seja uma terceira via, mas ainda vejo que nossa "militância" não sabe direito o que quer. Quem não tem direção para caminhar fica parado ou permite que a onda o carregue ao sabor da maré.
.
No começo muita gente não entendeu qual era a deste blog – alguns ainda não entenderam. Aqui eu falo exclusivamente por mim (sou autoridade apenas de mim mesmo), minhas opiniões são realmente minhas, por isso as defendo. No que eu acredito: a liberdade é o maior valor e o único pelo qual vale a pena lutar. Liberdade é diversidade de fato! Quem tem o direito de escolha, o sagrado direito de dizer "não", é livre de verdade. Todos iguais? Não, todos diferentes - inclusive entre os gays - pois cada um é um indivíduo único. Aí é que reside a graça deste mundo. Você se relaciona com categorias de pessoas ou com indivíduos? Você gosta - ou não - de alguém apenas porque esta pessoa é gay, negra, branca, oriental, deficiente física, mutante marciana ou pela incrível mistura de todas as suas características que a tornam um ser único neste mundão?
.
É nisso que acredito, essa é a minha "militância individual" (toda ação é política), esse é o meu exército de um gay só. E você é livre para gostar ou não.
.
Ps. Bom final de semana! E façam como estes dois blogayros: divirtam-se sem moderação!
.
Ps2. Maridão também compartilha deste modo de ver as coisas (do contrário eu criaria um blog só meu), escrevi na primeira pessoa porque o plural dá uma falsa impressão de que estava querendo falar no "coletivo", ok? E, defintivamente, essa história de "nós" não é comigo.
.

16 Comentários:

Ma disse...

Excelente post.

Pelo menos pra mim esclareceu um pouco a parte histórica da luta de direitos, agora resta saber onde vai dar essa briga direita/esquerda enquanto vamos fazendo o que pudermos.

Abraços

Unknown disse...

Raramente ou nunca - se não me engano - discordei da linha de raciocínio exposta. Talvez uma frase aqui, um parágrafo acolá, mas, ao finalizar a leitura e perceber o contexto, encontrava nele a minha razão. Por isso mesmo, me identifico tanto com o blog.
Desta vez, discordarei totalmente. A militância gay teve, tem e continuará tendo seus escorregões, mas o seu mérito foi, é e continuará sendo louvável.
Não milito nem o farei nunca porque não tenho paciência para lidar com pessoas que estão lá por interesses alheios e próprios; por autopromoções e etc. Sim, nisso vocês têm razão. Porém, pelo mesmo motivo, eu não me engajaria num partido político pra me tornar talvez um deputado nem, sequer, me candidataria a síndico do condomínio onde moro. Não tenho jogo de cintura para lidar com injustiças e pessoas com desvio de finalidade e de caráter. Mas, tais pessoas estão em toda parte, até no nosso ambiente de trabalho. E os poucos militantes sérios, com estômagos fortes e guerreiros acabam passando por cima, mesmo sendo atingidos pelos respingos de lama incrustada nelas.
A luta LGBT é tão importante quanto árdua porque teve início lá não sei onde nem quando, mas nunca terá um fim. Dos dois lados estarão sempre pessoas física e aparentemente iguais, mas com sexualidades diferentes. Não há exclusividade de raças humanas nem de nacionalidades de um lado só: brancos, negros, asiáticos, cafusos, europeus ou americanos, todos podemos ser hetero e homossexuais, portanto, diferentes. Mas, por que os homossexuais possuem direitos menores? Aonde está escrito que isso está certoo? A diferença está nesse tratamento e se alguns já usufruem de quase todos os direitos civis dos demais cidadãos heterossexuais, com certeza não foi de mão beijada, mas pela intensa militância aliada ao fato de pertecerem a países com um pouco mais de civilidade do que o nosso.
Logo, quem disse a vocês que a diversidade e a igualdade, no nosso caso, são antagônicas? Diferentes e minoria sempre seremos, mas por causa disso, nunca poderemos ter os mesmos direitos dos heterossexuais?

Júlio César Vanelis disse...

Eu achei a sua posição bem coerente. Vc não segue nenhuma das duas visões radicalmente. Concordo com quase tudo o que vc disse. Mas ainda estou confuso com essa questão de ser igual ou ser diferente. Concordo que ninguém tem que seguir um parâmetro predefinido, ser gay é apenas uma caracteristica, não um parametro para a vida. Mas eu acredito que os direitos sim, tem que ser iguais para todos, e com o objetivo de viabiliza-los para nós, a identificação como um grupo muitas vezes é necessária, um grupo que tenha condições de se reconhecer dentro da sociedade. Assegurando-nos esses direitos, não vejo mais sentido persistir com a ideia de grupo... (puts, acho que ficou confuso, kkk)

Abraço, aos dois... Até o próximo

Unknown disse...

Ai, eu adorava Playmobil...

Ainda estou com Julio e Junnior, mas entendo que muita gente confunde as bolas e faz cagada. O que eu quero é igualdade de direitos apenas (e simplesmente porque há igualdade de deveres, caso contrário...).

Unknown disse...

Com esse "muita gente faz cagada" quis dizer que entendo o que você disse.

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

a sua contextualização é perfeita ... a liberdade, as diferenças são causas inalienáveis ... mas tb entendo q, direitos e deveres iguais dentro de uma sociedade tb são coisas indispensáveis pelas quais, se não lutarmos, nunca as teremos ...


beijo grande à dupla

;-)

DPNN disse...

Junnior, liberdade e igualdade são realmente valores que se excluem, e isso não sou eu quem diz. A grande separação que se deu no pensamento político foi justamente entre os que escolheram a liberdade ou a igualdade, que acabou dando no tal direita x esquerda, ou, mais atualmente, no liberalismo x esquerdismo. Pense no caso do comunismo: é baseado na ideia de igualdade para todos, mas só é possível se você elimina a liberdade individual. No capitalismo, as liberdade individuais são garantidas, logo surgem as desigualdades.

Mas vamos ao comentário específico: acho que você não discorda do que foi dito, apenas mostrou de outra forma. Como você é advogado, sabe melhor do que eu que a melhor forma de se fazer injustiça é tratar todo mundo igualmente. Justiça é tratar o igual como igual e o diferente como diferente.

Então é neste ponto que coloco a confusão do "movimento gay"atual : se a gente se coloca como diferente, será tratado como diferente. Se a gente se coloca como igual, será tratado como igual. Se colocar como diferente e pedir tratamento igual cai num contraditório. É nesse sentido a crítica que faço, ok?

Como falei, o debate sobre a questão homossexual ainda é muito recente no mundo inteiro. É esperado que ainda exista preconceito e descriminação, principalmente se a gente imaginar que até pouco tempo era algo visto como criminoso ou até patológico. Toda nova visão demora um tempo para ser assimilada pela sociedade.

S.A.M disse...

Hoje vivemos numa sociedade que absorve idéias por preguiça de raciocinar antes, acho que teremoe muita luta até que se descubre essa terceira via e que por mais que se ache, alguns conflitos demorarão gerações para se passar.

Abração pros6

FOXX disse...

sua definição de liberdade é a melhor que ouvi em mtos tempos, é a possibilidade de escolha...

para tanto, para que haja a possibilidade de escolhas, é necessário que se garanta direitos fundamentais para q estas escolhas possam ser feitas. por exemplo: se um jovem não tem direito a uma educação de qualidade ele não é livre para escolher a profissão no seu futuro porque as possibilidades não foram abertas para ele.
Falando sobre os gays, como podemos lutar por liberdade agora, se ainda estamos cerceados por leis que nos impedem nosso direito a escolha? Não podemos ir ou vir porque podemos levar uma lâmpada fluorescente na cara, não podemos decidir formar família porque não podemos casar ou adotar crianças, nossa única liberdade é escolher se podemos viver escondendo qm somos ou assumir mas manter-se nas sombras, porque tb se vc assumir e exigir seu foco de luz vc é jogado pra escanteio. Então, q liberdade é essa?

Billycious Böy disse...

Só o que espero para os gays é que tenham os mesmos direitos dos héteros.
Como cidadãos, somos iguais aos héteros; como indivíduos, ''objetos'' criativos, todos têm as suas peculiaridades e características - e ser gay é apenas uma dessas características.

Wans disse...

Vc escreveu muito bem e cada ser humano é diferente. Percebemos isso pelo leque de diferenças que imperam nos blogs. Cada um representa a si prórpio e as cores do arco-iris deveris ser isso, não? E não importa o que os outros acham, o importante é estar bom para nós mesmos.

bj

Unknown disse...

Dois: sob o ponto de vista legal, não há desigualdade entre os brasileiros pelo fato de sermos héteros e homoessexuais.
O princípio da isonomia (tratamento igual aos iguais e desigual aos desiguais) tem como parâmentro a norma em si que deverá ser aplicada da mesma maneira para todos que nela se inserem. Ou seja, no arcabouço legal de um Estado democrático, em tese, as leis devem ser criadas prevendo o máximo de situações que podem haver num mesmo tema (advindo de um costume, comportamento ou outra necessidade), cujo regramento se torna imprescindível.
Essas variações numa mesma lei é que formam as diferenças de tratamento, porém, todo o teor do 'caput', do parágrafo ou do inciso de um determinado artigo, tem que ser igualmente aplicado para os que neles se inserem.
O artigo seguinte tratará do mesmo assunto, porém para as pessoas que não se encaixam na situação do anterior.
Exemplo: sai uma nova lei sobre um novo imposto. O primeiro artigo ('caput') diz logo que todos devem pagá-lo. No entanto, o parágrafo único deste artigo faz uma ressalva: os deficientes físicos estão isentos.
O Estado não poderá fazer diferença entre um deficiente e outro, obrigando um a pagar e ao outro não. Ou conceder isenção ao não deficiente. Da mesma forma, às penas a serem aplicadas.
Com relação às diferenças de sexualidade, pelo menos no nosso País, não há lei alguma que diga que a homossexualidade é crime ou que os homossexuais são isentos de pagar determinados impostos por não poderem casar, constituir família e etc.
Ou seja, simplesmente não existe a lei; a norma. O Brasil se cala com relação a isso. Logo, não há que se discutir, por enqto, tratamento igual ou desigual pq simplesmente não há um tratamento e é isso que os gays militantes ou não, buscam. Claro que ninguém quer a criminalização da homossexualidade, mesmo porque política e culturalmente não é a nossa 'vibe'.
Há uma frase do filósofo Montesquieu que diz assim: "A liberdade é o direito de fazer tudo aquilo que as leis permitem".
Precisamos dos políticos, dos governadores, da presidente, para sermos livres.

Anônimo disse...

Basta um post de direito para bombar qualquer blog. Aqui não é diferente.
Tem alguns tópicos que acho realmente ridículos. Discutir o direito de ir e vir é um deles.
Até hoje nunca tive no Brasil meu direito negado por lei, pode ter um babaca que queira me ridicularizar, mas isso não é cercesamento de direito, isso é individualidade de cada um.
Apesar de ser gay assumido pude registrar meu filho legítimo. O Estado não proibiu tal procedimento.
Há leis para héteros e gays quanto à adoção. E é sempre alguém (bom ou mal) que decide pelo sim ou pelo não tanto para héteros, quanto para gays. É como loteria (infelizmente), O que há de se fazer? Sempre há recursos!
Quanto ao "casamento" (aspas gigantes) é apenas questão de tempo! Mas estou fora, obrigado!
Excelente post!

Nilson disse...

Antes de mais nada, quero dizer que achei teu blog muito bom, estou começando a conhecer, mas já vi que tem muita coisa boa por aqui. Achei interesantíssimo teu post, também me sinto assim, acho que não é egoísmo nem individualismo, penso que cada um deve cuidar mais de si e deixar o restante fluir. Não adianta bradar por direitos se não cuidamos direito dos assuntos que nos dizem respeito. Dessa forma,
pensar o individual também passa a ser pensar o coletivo. Abraço.

Lobo disse...

Não vejo isso exatamente dessa forma. Assim como não vejo igualdade e liberdade como coisas excludentes. Afinal, a igualdade que se busca é a igualdade de direitos. E se igualarmos os direitos, não teríamos direito a mesma liberdade que possuem os héteros, dentro das suas limitações?

Acho que a liberdade anárquica é a máxima que um povo pode chegar, e o ideal... se funcionasse com o povo tendo essa mentalidade que tem. Com o mundo do jeito que está, duvido muito que uma liberdade nesse nível não fosse gerar um sem número de problemas.

E eu realmente não entendo autoridades...

Gui disse...

Concordo em boa parte com vocês. O maior problema é só querer olhar um lado,independente da filiação política ou não desse lado.

O ideal é sempre fazer uma síntese das duas propostas. Mas o ideal nunca existirá, não é?

Por isso, acho que a discussão é fundamental, acho que temos que avançar no que for possível e não que não for, lutar para que o seja.

Beijão

Postar um comentário

BLOG ENCERRADO!


We Love It:

We Love It:

Seguidores:

DPNN no Facebook

Twitter:

  ©Dois Perdidos Na Noite - Todos os direitos reservados.

Template by Dicas Blogger | Topo