domingo, 18 de julho de 2010

Sobre o Casamento Gay e a Desconstrução da Heteronormatividade


Por conta da aprovação do casamento gay na Argentina, tenho pesquisado a respeito e ontem, conversando com o maridão, vimos que o assunto está na boca de todos. Ele se mostrou surpreso ao ver conhecidos (e alguns familiares) que não sabem de sua orientação sexual se dizendo totalmente favoráveis ao tema e demonstrando espanto com o atraso de nossa sociedade. Pesquisando a respeito e vendo o quanto os heterossexuais estão se mostrando a favor, não é que descobri que uma parte da militância gay é contra a aprovação do casamento gay? Fiquei curioso e fui tentar descobrir a base para a argumentação.

A tese principal destes grupos é a de que o casamento é uma instituição conservadora, burguesa e reacionária ligada à heteronormatividade. Sendo assim, o casamento não combinaria com o modo de vida gay. Para eles, o homossexual teria a prerrogativa política de lutar para desconstruir a heteronormatividade e propor um novo modelo baseado em outros paradigmas. Em outras palavras: gay é promíscuo e esse papo de monogamia é coisa de hétero careta.

Muito me irrita estar numa balada ou bar e ver que as pessoas não respeitam nem o fato de você estar acompanhado e darem em cima na cara dura, como se todo gay não respeitasse o “casamento” e fosse aceitar a investida. Duvido que um hétero cante uma garota na frente de seu namorado, por exemplo. Faço questão de deixar clara minha desaprovação quando isso ocorre, e se necessário, desço do salto e faço um barraco...rs... mas estou me desviando do assunto.

Acho que esse discurso de “desconstrução da heteronormatividade” - que inclusive estava no famigerado III Plano Nacional(socialista) de Direitos Humanos - gera mais a homofobia do que a combate. O fato de ser gay não implica em me opor à sociedade! O fato de eu ser gay não implica que eu tenha algo contra a heterossexualidade alheia. Não quero um mundo só para os gays, quero mais é que os héteros continuem héteros e que os gays continuem gays e que todos convivam no mesmo mundo, sem que a orientação sexual seja um empecilho - ou o único motivo a permear as relações.

O desejo de compartilhar uma vida com quem você ama é incompatível com “o modo de vida gay”? Conheço bons casais que dirão o contrário. Estou com meu parceiro há quase 10 anos, nunca o traí - e não o fiz por obrigação ou porque ele me mantenha numa coleira 24 horas por dia. Muito pelo contrário.

Aprovado o casamento gay, ele será uma opção, e não uma obrigação! Quem quiser se casar, terá o direito à escolha. E quem quiser viver de outra forma, também poderá. O que não dá é para querer impor regras e padrões de comportamento para indivíduos com necessidades, anseios e valores tão diferentes. Falamos muito sobre diversidade, está na hora de deixar de ser apenas um slogan.

Obs. A imagem que ilustra o post é um álbum duplo chamado “Marry Me” com canções celebrando as diferentes formas de amar. Saiba mais aqui.

7 Comentários:

Jean Borges disse...

Gostei da parte do barraco...rs
Compartilho o ponto de vista, realmente o casamento deve ser visto como um direito e defendido por todos nós, para que seja usado por quem quiser!!!
Enquanto mantermos o estereótipo do gay promíscuo como imagem do movimento, definitivamente não teremos o respeito de ninguém!!!
Abraço!!!

Fernando Lopes disse...

Acredito que qualquer movimento ideológico se perde quando esquece que o foco é a liberdade. Percebo que isso sempre surgiu em diversos movimentos: feminista, trabalhista e etc.

Enquanto gay só sei que quero poder escolher o que quero da minha vida, quero igualdade, e que o preconceito (seja homofobia interna ou externa) seja combatida

Abs

Wans disse...

Eu quero casar! Quero muito. Quero poder dividir com o Melo tudo o que os héterossexuais já dividem. Tem gente que não tem essa necessidade, mas eu tenho! Espero que consigamos em breve.

Lobo disse...

Sempre tem os que são a favor e contra dentro de um grupo supostamente homogêneo. Cada cabeça é uma cabeça. Mas é bem por essa idéia de igualdade de direitos que a gente tem que trilhar mesmo. De direitos, não de comportamento e orientação, tem mais é que ser uma miscelânia mesmo neste aspecto XD.

S.A.M disse...

Gostei tanto quando vi que você tratou desse assunto! Tem gente que é contra o casamento mas quer fazer descer guela abaixo a todos isso, aí não é certo!

Beijao!

Alexandre Willer Melo disse...

santa cassandra rios!
escrevi hoje sobre isso e é quase igual ao que você escreveu aqui e só li agora.
de certo que parte de nós pensa mesmo em desconstruir o modelo papai/mamãe e até entendo isso de certa forma posto que é uma padrão que, a grosso modo para expor aqui, não pdoe nos servir de modelo pois temos um estilo de vida diferente.
mas acho que levam isso para a alcova quando deveria ficar na esfera afetiva e de identidade social mas também é impossível impedir que o movimento se fragmente posto que cada grupo ou um deve ter sua interpretção dos 'evangelhos'

Anônimo disse...

Gays não são perseguidos por serem promíscuos, gays são perseguidos por serem gays.

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